2 de out. de 2015

Santos Anjos da Guarda



Dia 2 de outubro, dia dos anjos da guarda, um dia após ao da minha santa de devoção, Santa Teresinha do menino Jesus. Então eu me inspirei a escrever um pouco do que tenho vivido e a contar para vocês como Deus me concedeu um anjo.
Em fevereiro de 2015, um mês após ao casamento, descobri que estava grávida, foi um misto de alegria, gratidão, ansiedade e medo. Sim, medo também, de repente a minha vida tinha mudado completamente: casamento, cidade nova, desemprego, e agora um filho. Não sabia se estava preparada para tudo mas tinha a certeza de que Deus me capacitaria, então amei o projeto de Deus e aquela criança que chegaria, amei com a minha alma.
Com 19 semanas de gestação, quase 20, em junho de 2015, comecei a sentir dores muito fortes que em pouco tempo foram se tornando insuportáveis, chegando à emergência do hospital a notícia de que meu útero já estava totalmente dilatado, fui internada. Por mais que eu tentasse permanecer estática a cada contração e me privasse de me contorcer de dor, foi inevitável, após pouco mais de 5h de intenso trabalho de parto, Teresa nasceu e deu seu último suspiro.
Não, eu não me culpei e naquele momento também não pensei em questionar a Deus, já havia lhe entregado a vida de sua filha, a menina a qual Ele me concedeu a graça de poder gestar.
Mas também não posso negar que fica um vazio e uma dor na alma imensuráveis, e o quanto são difíceis os dias após a perda. É um combate constante tentando se consolar, tentando não questionar a história que Deus faz que eu sei, é perfeita. As pessoas se compadecem muito início, mas depois esquecem, é normal, completamente normal. Algumas talvez um dia se esqueçam completamente que aquele anjinho existiu, mas as mães, essas nunca. Para nós o luto continua, dia após dia, a saudade aperta; e eu tenho a certeza que mesmo que Deus conceda muitos outros filhos a essas mães, nós nunca nos esqueceremos de nenhum deles, mesmo aqueles que não ficaram em nossos braços.
Por mais triste e difícil que seja para uma mãe perder um filho, existe porém uma forma de passar por isso com alegria, se pudermos ver que possuir um anjo no céu, um anjo que morou dentro de nós, é uma eterna graça. E isso só poderemos alcançar se nos voltarmos para o único que pode preencher esse vazio, Deus. Eu sou humana e confesso, tem dias que a saudade aperta e eu choro como uma criança. Mas tenho visto que esse luto pode ser uma grande ponte para alcançar o coração de Deus, e tenho tentado me apegar a isso.
Não dá pra não pensar em Nossa Senhora e não desejar ser como ela, aquela que viu seu filho morrer. Ela sabia que tinha gerado um filho para isso, e com certeza deve ter sentido uma dor enorme no momento de sua morte, mas ela também tinha a certeza da vida e conhecia o propósito de tudo aquilo. Por amor a Deus e também a nós ela aceitou sua história, mas também porque ela sabia bem de algo que às vezes nós nos esquecemos: os filhos não são nossos!
Eu também tenho a certeza da vida, apesar de não saber exatamente o propósito de tudo o que Deus permite na minha história, mas se eu pudesse escolher entre nunca ter tido a Teresa ou tê-la e ter que devolver a Deus, eu escolheria sem dúvida nenhuma a segunda opção. Foi pouco o tempo que passamos juntas nesse mundo e muito tudo o que ela me permitiu sentir, viver e aprender. Hoje tenho um anjo que intercede por mim todos os dias e todos os dias me lembra de tentar ser alguém melhor. Espero não me esquecer disso nos dias difíceis em que choro de saudade e de ser sempre grata a Deus por ter me concedido um anjo.
Não é nem um pouco fácil, eu confesso, mas não se assustem, podemos sim enxergar a história linda e perfeita tal como ela é e admirá-la, se estivermos com os olhos voltados a Deus!

"Vou enviar um anjo que vá à tua frente, que te guarde pelo caminho e te conduza ao lugar que te preparei. Respeita-o e ouve a sua voz." Liturgia das horas.

30 de out. de 2014

Amar é uma escolha


Durante muito tempo carreguei comigo uma crise que não sabia como resolvê-la: eu queria amar a Deus, queria amar a Cristo, mas não conseguia. Por que não conseguia? Porque sempre achei que não escolhemos amar alguém, que amar é algo que nasce dentro da gente naturalmente. E eu não sentia isso nascer em mim com relação a Deus.

É verdade que em vários momentos da minha vida experimentei de forma concreta o amor de Deus por mim e, nesses momentos, sentia um amor por Ele muito grande, pelo fato de me sentir amado. Mas era um amor que durava enquanto eu me sentia consolado por Deus e que depois acabava. Voltava à minha rotina, deixava Deus em segundo plano, caía nos mesmos pecados, e acreditava que a as minhas quedas eram consequência de não amar a Deus. E eram, de fato, mas não como eu pensava (algo que vai ficar mais claro no fim do texto). Eu acreditava que só conseguiria perseverar na vida cristã se amasse a Deus.

Certo dia comentei com um amigo que eu queria amar a Cristo, queria sentir esse amor de dar a vida por Ele, e perguntei o que fazer. Meu amigo respondeu “Olha, só sei de uma coisa, não é possível amar a Cristo sem amar ao próximo”. Fiquei mudo e a ficha caiu: “amar ao próximo”, um ensinamento que sempre ouvi na Igreja, mas que pela primeira vez me tocou profundamente. Percebi que eu queria amar a Cristo, mas no meu dia a dia eu não amava as pessoas que estavam à minha volta.

Mas se eu não conseguia amar a Cristo, como iria conseguir amar aquelas pessoas com quem  tenho dificuldades de me relacionar e que não aceito? Bem, para ajudar a curar essa minha incapacidade de amar as pessoas, comecei a me esforçar mais em servi-las, ser solícito a elas, ter caridade, não agredi-las, e ser atencioso até mesmo em pequenos gestos como perguntar a alguém como está, como tem passado. E como isso tem me ajudado, principalmente com aquelas pessoas que eu não aceitava. Não acredito que agir dessa maneira com alguém que você não suporta seja falsidade, mas sim amor. Por amor a Deus e ao irmão passei a me esforçar em agir com caridade com as pessoas. E aqueles que eu julgava, que não aceitava, não suportava, Deus tem curado meu relacionamento com eles. E começou a despertar em mim um certo carinho por essas pessoas. Comecei a compreender que amar é algo diferente do que eu pensava.

Lendo um livro de Santa Teresa de Jesus, encontrei um trecho que acabou com essa minha crise:
“Talvez não saibamos o que é amar, e não me espantarei muito; porque não está no maior gosto, mas sim na maior determinação de desejar contentar a Deus em tudo e procurar, tanto quanto pudermos, não O ofender […]”.
Entendi então o que é amar. Sempre achei que minhas atitudes cristãs seriam consequência do amor enquanto sentimento, do gostar. Que eu só conseguiria perseverar na vida cristã se eu “gostasse” de Deus acima de todas as coisas. E o gostar é algo que não se escolhe, mas que se sente. Esse “amor” por Deus eu não tinha. Mas Santa Teresa vem me dizer que amar é uma determinação de desejar contentar a Deus. Ou seja, amar é uma escolha! Eu quero amar a Deus, e para amar a Deus muitas vezes tenho que fazer o que não gosto, mas que estou determinado a fazer, desejando contentá-Lo . Isso é escolha. Isso é o que eu estava fazendo com aquelas pessoas que eu tinha dificuldade de amar. Eu posso escolher amar a Deus!

Compreendi então que minhas atitudes cristãs são consequência do amor a Deus enquanto escolha, enquanto determinação, e não enquanto sentimento. E isso tem me ajudado a perseverar! Antes eu achava que só conseguiria ser um verdadeiro cristão quando nascesse um sentimento de amor (enquanto gosto) dentro de mim, que me levasse a agir em decorrência dele. Hoje sei que tenho que me esforçar para amar, tenho que me empenhar. Quando se tem essa consciência, não se espera o sentimento vir para agir, mas se age e o sentimento muitas vezes vem em decorrência da atitude. Porque agindo com amor se alcança a verdade. E quando descobrimos a verdade, nos apaixonamos por ela! Amar é uma escolha. E eu escolhi amar a Deus!

23 de abr. de 2014

UM ESPELHO CHAMADO JEJUM

Um espelho chamado jejum


Essa quaresma foi proveitosa e aprendi – de modo pessoal – um grande valor escondido na prática do jejum. Já me questionei inúmeras vezes o porquê de se jejuar, qual a lógica de “passar fome”, pois desta vez encontrei um grande espelho na prática do jejum.

Mas, como assim um espelho?

Vejamos a partir de uma famosa frase de C. S. Lewis (sim, o autor de Crônicas de Nárnia): “Se você está à procura de uma religião que o deixe confortável, definitivamente eu não lhe aconselharia o cristianismo”. Poderia encerrar a explicação por aqui, mas carece de mais. Alguém poderia perguntar: “por que o cristianismo é uma religião que não me deixará confortável? Que loucura! Eu sempre aprendi que o cristianismo é a religião que prega o amor, que Jesus era um homem tão carismático e grandioso!”. Sim, você está correto. Jesus realmente prega o amor. O problema é o que se compreende por amar. O amor que Jesus prega é o amor ágape e a atitude de se submeter à kénosis (esvaziamento de si mesmo).

Assim como os Filósofos Gregos e os Espiritualistas Egípcios, também os Padres da Igreja ensinavam que para conhecer a Deus é preciso conhecer a si mesmo e o instrumental para isso é a kénosis. Qual a melhor forma de conhecer a si mesmo? Seria olhar para si em um espelho que não reflita apenas superficialidades? Exatamente!

O relato do capítulo 4 de Mateus diz: “Jesus foi conduzido ao deserto pelo Espírito, para ser posto à prova pelo diabo. Ele jejuou durante quarenta dias e quarenta noites. Depois, teve fome. O tentador aproximou-se e disse-lhe: ‘Se és o Filho de Deus, manda que estas pedras se transformem em pães!’ Ele respondeu: ‘Está escrito: Não se vive somente de pão, mas de toda palavra que sai da boca de Deus’!”

A narrativa anterior é o batismo de Jesus por João Batista e logo em seguida dá-se início à sua vida pública e o anúncio do reino. Por que o Espírito é tão mal? Por que fez isso com Jesus? Ora, somente na precariedade é que o homem demonstra verdadeiramente quem é, qual a essência que domina seu coração, e, desnuda toda a imagem embaçada e torta, a qual engana os olhos humanos. E Jesus demonstrou que estava pronto; que a essência de seu coração era a palavra de Deus, a vontade do Pai. É muito fácil ser caridoso e bom quando se está na comodidade, no conforto, quando não há nada que te tire do sério: “Se amais somente aqueles que vos amam, que generosidade é essa? Até mesmo os pecadores amam aqueles que os amam” (Lc 6, 32).

O cristianismo quando levado a sério rompe com o véu que esconde o coração do homem e o introduz no templo, purificando-o de sua animalidade. Esse processo é dolorido e nada confortável, o que explica a frase de C. S. Lewis, mas além do sofrimento da Cruz está a ressurreição em Cristo, está a vida eterna.

Portanto, quão poderoso é o jejum que nos tira de nossa comodidade, nos arranca do conforto, do prazer de saborear uma deliciosa refeição, que nos tira do sério, revela quem realmente somos e qual a essência de nosso coração. Jejum, o poderoso espelho que reflete além das aparências externas.



R. B. Figueiredo

28 de jan. de 2014

O poder da oração de uma mãe

Santa Mônica e Santo Agostinho
Sempre ouvi que a oração de uma mãe pelo filho é forte. O maior exemplo disso é o de Santa Mônica, que rezou durante anos pela conversão de seu filho Agostinho, que depois veio a se tornar padre, bispo e santo.

Há um tempo atrás (quase um ano) eu me encontrava muito triste e angustiado devido ao peso dos meus pecados. Estava tão desanimado que nem conseguia pedir a ajuda de Deus para sair daquela situação. Mas certo dia fui a uma celebração na igreja e disposto a rogar a Deus que me desse ânimo novamente. Naquele dia as palavras me falaram muito forte sobre estar vigilante, abandonar as ações das trevas e viver uma vida santa. O padre ainda, em sua pregação, falou do dom de chorar os seus pecados, o que eu desejava profundamente, mas não conseguia. Entao naquela mesma noite sonhei com a voz do Papa João Paulo II me dizendo "Não tenha medo! Você não está sozinho!". Comecei a chorar no sonho e acordei aos prantos. Isso nunca tinha acontecido comigo. Levantei da cama, me prostei no chão e comecei a pedir perdão a Deus por tudo o que eu tinha feito. Nunca fui de ligar pra sonhos e nem de ver sinais neles, mas independente se aquilo era um sinal ou não, me ajudou bastante e sou grato por isso. No dia seguinte busquei um padre e fiz uma boa confissão.

Nos últimos dias tenho me encontrado novamente na tristeza, por conta de não estar em estado de graça por muito tempo. No último domingo a palavra me convidou seriamente a abandonar as trevas e buscar a luz, que é Jesus Cristo. Então ontem busquei a confissão e na noite passada sonhei novamente com o Papa João Paulo II, e estávamos rezando o Kyrie (Senhor, tende piedade de nós). Novamente acordei aos prantos, pedindo perdão a Deus.

Nesse segundo episódio comecei a pensar na minha mãe. Ela é muito devota ao beato João Paulo II (que em breve será canonizado!), e sempre ouvi ela dizendo "vou rezar pro beato", e também sempre a ouvi pedindo por mim e pela minha irmã em suas orações. Pode ser coincidência, mas eu acredito sim que isso tudo que relatei é fruto das orações que minha mãe tem feito ao João Paulo II.

E hoje sou muito grato à minha mãe por estar sempre orando por mim, ao beato João Paulo II, e a Deus por me tirar do pecado e me proporcionar esses momentos de consolação.

5 de jul. de 2013

O chamado da fé; ou: fora da zona de conforto.

O chamado da fé; ou: fora da zona de conforto.



Já havia em mim a inspiração de escrever a respeito, e com a publicação da encíclica Lumen Fidei, em particular a primeira parte do primeiro capítulo a catequese: Abraão nosso pai na fé. A chama da fé já me suscitou colocar para fora a inspiração latente. Que Deus me acompanhe nas próximas palavras.

Qual a diferença entre a vida de um santo - de alguém cuja vida seja heróica nos caminhos da peregrinação terrena - e de um cristão comum? Responde-nos nosso pai na fé, Abraão.

A resposta é a fé! E como nos fala a encíclica a fé não é um salto no escuro, mas a certeza, na confiança, de que Deus fará! A História de Abraão nos responde como tudo se dá. A primeira etapa foi escutar a voz de Deus, ou seja, permitir-se ouvir em contraponto a querer ser ouvido; depois despojar-se das seguranças, da comodidade; para só então acontecer o desejo do coração de Abraão. Pode parecer injusto que seja assim, mas isso acontece por amor e pela dureza do coração de cada um, pois em nossa visão turva não enxergamos as conseqüências de atos mal planejados e mal executados, temos a tortuosa inclinação ao imediatismo.

Primeiro, é preciso ouvir a Deus para compreender, na maior fonte primária, os motivos de nossa inquietude e anseios. Ele nos conhece por inteiro e sonda nosso profundo interior (Salmo 139). Enxergamos nosso desejo como a ponta de um iceberg o qual esconde sua maior parte imersa em águas geladas. Deus compreende bem nossas necessidades e tudo aquilo que pode ser bom para nós, assim ao ouvir sua voz pode-se ter a orientação completa a seguir e não apenas meios incompletos.

Segundo, é estar disposto a despojar-se daquilo que nos prende no mesmo lugar. Deus falou a Abraão para sair de sua terra e pôr-se a caminhar, ou seja, tirou suas falsas seguranças para libertá-lo de sua própria prisão. Aqui se dá uma das grandes diferenças de nossa pergunta, não estamos dispostos a abandonar certas coisas, e, aqui se encontra o ponto chave da conversão. A palavra é: obediência! Ouvir a Deus não é tão difícil, mas é difícil abandonar certos hábitos, certas “verdades”, aceitar e obedecer à voz de Deus. Muitas vezes nos convencemos da seguinte frase: “Eu acredito e aceito isso, mas isso eu não aceito.”, com o intuito de não querer se por em movimento, mas a vida em direção ao céu não é estática, é dinâmica. Neste ponto se encontra a zona de conforto, um local cômodo em que construímos uma fortaleza intransponível. Cria-se novamente a falsa segurança. Já o santo não se contenta com seguranças terrenas. A segurança verdadeira só existe no pós-morte, na ressurreição, quando já alcançou o céu pela misericórdia divina. Até chegar o céu a caminhada deve ser constante ou corremos o risco de assim como Moisés chegar às portas da terra prometida e não poder entrar.

Por fim, depois de tudo isso é que faz o coração aquecer toda àquela água gelada que o rodeava ao ponto daquele desejo obscuro ser iluminado pela fé e só então se alinhar perfeitamente ao desejo de Deus. Quanto amor!




Vejo-me em muitas vezes estagnado na fé ou vivendo um grande tempo de aridez, não é a princípio algo alarmante ou temerário, pois em toda vida existem os momentos de desertos. Entretanto, não deve esse tempo ser tratado com leviandade. Há um imperativo que me obriga a não conformar-me com uma vida medíocre ou demasiadamente seca e vazia: “Sede santos, assim como vosso Pai celeste é Santo.” (Mt 5, 48).

É recorrente ver pessoas cristãs reclamarem sobre suas vidas sem nem refletir sobre a reclamação ou sobre sua postura diante do pedido. São pessoas de vivências variadas: uns vivem apenas da missa aos domingos; outros têm uma extrema dificuldade de se dedicarem; outros, ainda, têm a extrema facilidade de se dedicarem a um grupo, movimento, ou qualquer outra denominação; alguns têm uma vida de oração constante, vão à missa, lêem a bíblia, rezam o terço diariamente; e tantos outros em tantas outras situações. Em todas as situações encontramos pessoas que se queixam, murmuram freqüentemente, e muitas entram em crises de fé profundas chegando até a questionar a existência ou bondade de Deus. São coisas muito comuns e não me excluo do grupo, pelo contrário, a reflexão parte de mim para fora, sempre em busca da minha conversão e do cumprimento do desejo de Deus em minha vida.
Em regra o modelo é assim: “Senhor, eu quero ‘isso’. E que seja ‘assim’, ‘assim’, e ‘assim’.” E se aplica a quase tudo, é só substituir o “isso” pelo pedido e os “assim” pelos aspectos que o pedido, para ser realizado, deve conter. Resumindo: “Senhor, entra na minha casa, entra na minha vida. Faz uma linda reforma, mas não mexe nas estruturas e nem nas paredes que eu quero que permaneçam em pé”. As dificuldades de se aprender com a catequese de Abraão não se aplica apenas aos afastados da Igreja, mas também aos mais freqüentes e dedicados. Não estamos imunes! Se for honesto consigo mesmo irá perceber quais são suas seguranças e quais são os pontos que precisam de conversão, de despojamento, de largar e se por a caminho. Eis a diferença! Os santos não se cansam de obedecer a voz de Deus, isso os sustenta, isso os impulsiona a estarem de pé e em movimento constante.




Portanto, a fé, a esperança e a caridade são virtudes necessárias na vida de todo cristão. É preciso aprender com nosso pai Abraão a ouvir a voz de Deus e obedecê-lo. Ele nos sustentará e nos humanizará, retirando de nós todos os aspectos que nos tornam selvagens em um reino perdido. Escutar e responder ao chamado da fé nos tira da zona de conforto e nos coloca a caminhar rumo à terra prometida. Cristo é a Palavra encarnada, que a Palavra se torne carne em nossos corações, a fim de cumprirmos àquele imperativo à luz da fé: “Sede santos, assim como vosso Pai celeste é Santo.”.


R. B. Figueiredo


12 de abr. de 2013




A questão da Liberdade de Expressão e da Homossexualidade.


Há muito leio e vejo tanta desordem e opiniões inacreditáveis (embora por direito livres de serem ditas) a respeito do que se discute em vias públicas sociais, reais e ou virtuais. O certo é que há exageros de ambas as partes, e, mais certo ainda que exista muita ignorância sendo vomitada em demasia. Alerto a quem se aventure na leitura deste texto que não ouso que este seja a verdade suprema, mas o exercício da minha liberdade de expressão e opinião pautadas no meu mísero conhecimento e experiência pessoal de vida.

[Antes de me julgarem preconceituoso e homofóbico faço alusão à minha experiência no curto espaço-temporal de vida que percorri. Tenho um tio homossexual a quem nutro amor imenso; já participei de uma companhia de dança em que tive colegas homossexuais; no grupo de esportes radicais que sou integrante convivi e instruí alguns; no teatro também convivi; na faculdade tem muitos; até mesmo na igreja. Convivi com homossexuais tanto do sexo feminino como do masculino, e sempre os tratei com respeito e afeto, inclusive quando recebi “flertes” pude expor que não era minha orientação sexual com muito respeito e tolerância, portanto já quebre a tendência e o pré-conceito em me declarar intolerante e preconceituoso simplesmente por manifestar a minha opinião. Acusar-me de tal delito seria objetivamente um tiro que saiu pela culatra.
Interessante notar que na atual conjuntura faz-se necessário escrever o parágrafo anterior antes de exercer a liberdade de expressão. Supostamente, o direito é pleno e eficaz sem ter de me resguardar para não ser processado pelo exercício de um direito positivado na Constituição Federal em vigência.]

Alguns amigos católicos já expressaram não saber como lidar ou expressar suas opiniões a respeito da questão, muito menos com os próprios adeptos da orientação homossexual. Em contra partida a reação é quase como a de se pisar em um ouriço, em que se não tomar as devidas precauções pode-se sofrer o infortúnio dos espinhos dolorosos. Também já presenciei católicos expressando asperamente todo tipo de imperícia no que diz respeito ao tema no Catecismo da Igreja Católica (CIC). Li textos de pessoas famosas, consideradas formadoras de opinião, repletos de considerações equivocadas (não citarei nomes por não saber se a autoria procede). Assim a bola de neve se forma, configurando uma situação de tensão social desnecessária e muito delicada. É como escutei várias vezes: vivemos em um mundo onde todos querem dar opinião sem ao menos pesquisar e entender o mínimo a respeito do argumento contrário.

Aos amigos católicos, eu diria que o CIC trata o tema de forma clara, sucinta e objetiva, vejamos: “Um número considerável de homens e de mulheres apresenta tendências homossexuais profundamente radicadas. Esta propensão, objetivamente desordenada, constitui, para a maior parte deles, uma provação. Devem ser acolhidos com respeito, compaixão e delicadeza. Evitar-se-á, em relação a eles, qualquer sinal de discriminação injusta. Estas pessoas são chamadas a realizar na sua vida a vontade de Deus e, se forem cristãs, a unir ao sacrifício da cruz do Senhor as dificuldades que podem encontrar devido à sua condição” (2358 CIC), o parágrafo começa considerando que as motivações para as tendências homossexuais são relevantes, e diz claramente que não se deve agir com intolerância, ou seja: “Amarás teu próximo como a ti mesmo”, são tão dignos de serem amados como qualquer outro, e à luz da própria doutrina cristã eles podem exercer o direito natural do livre-arbítrio e se relacionarem como queiram, ainda assim, suas escolhas devem ser respeitadas por todos. Porém, deve-se também ser respeitada a opinião em contrário, é do mesmo modo um direito natural não concordar com a prática sexual dos homossexuais.

Os textos que li anteriormente, atribuídos às pessoas famosas, argumentam que a união homossexual, a qual os cristãos defendem não ser natural, é percebida na natureza animal; dizia que outras sociedades, não cristãs, sempre aceitaram como algo normal a homossexualidade e, portanto, seria um argumento inválido dizer que a união homossexual é contrária à lei natural. Perceba que o afirmativo é traçado em cima de uma linha de raciocínio baseada na ação de animais irracionais e numa sociedade em que o conceito de moral era hedonista e egocêntrico (conceito que vem crescendo novamente com a ditadura silenciosa do materialismo), como por exemplo: os povos bárbaros, gregos antigos, romanos pagãos, entre outros. Sociedades em que: assassinato era sinal de honra para os bárbaros; eliminar pessoas consideradas “imperfeitas”, por uma deficiência física, para os espartanos; matar crianças ser comum quando o sexo do bebê não fosse o desejado; dentre inúmeros costumes impetuosos e de execução absolutamente condenadas pela Declaração de Direitos Humanos. Atitudes repudiadas por qualquer pessoa de moral ocidental.
Vejamos o que o CIC diz: “A homossexualidade designa as relações entre homens ou mulheres, que experimentam uma atração sexual exclusiva ou predominante para pessoas do mesmo sexo. Tem-se revestido de formas muito variadas, através dos séculos e das culturas. A sua gênese psíquica continua em grande parte por explicar. Apoiando-se na Sagrada Escritura, que os apresenta como depravações graves, a Tradição sempre declarou que «os atos de homossexualidade são intrinsecamente desordenados». São contrários à lei natural, fecham o ato sexual ao dom da vida, não procedem duma verdadeira complementaridade afetiva sexual, não podem, em caso algum, ser aprovados”. (2357 CIC), ou seja, a doutrina explica que na perspectiva cristã o natural é a possibilidade de perpetuação da criação divina por meio de uma ação humana chamada procriação (na própria palavra percebe-se o intuído de cooperar com a criação: “pró-criação”), nessa perspectiva a relação homossexual torna-se absolutamente contrária à lei natural, o que nada tem a ver com a relação do mundo na natureza animal (macacos, gorilas, cachorros, ratos).
Ao contrário do conceito de natural desenvolvido pelos defensores do casamento gay, o cristianismo convida seus praticantes a serem santos: “Sede santos como o vosso Pai celeste é Santo” (Mt 5, 48), é um convite a ser diferente, a não ser como o comum (profano), a palavra “santo” no hebraico partiu de um outro conceito primitivo, o conceito de “separação” em que separa o sagrado do profano. Aqui, no mundo, o comum é ser como os animais irracionais ou como as sociedades hedonistas em que o que vale é saciar todo o desejo do homem e, assim, acaba por se tornar escravo de seus próprios desejos. Já o cristianismo convida o homem ao autocontrole, a ter domínio de seus desejos, o que o torna inteiramente livre. Neste sentido é que o CIC diz: “As pessoas homossexuais são chamadas à castidade. Pelas virtudes do autodomínio, educadoras da liberdade interior, e, às vezes, pelo apoio duma amizade desinteressada, pela oração e pela graça sacramental, podem e devem aproximar-se, gradual e resolutamente, da perfeição cristã” (2359), esse chamado a vida casta não se restringe somente a eles por serem homossexuais, ele é feito a todos os namorados, a todos os solteiros, a todos os casais que vivem um matrimônio com algum tipo de impedimento (como casamentos de segunda união) até que se regularize a situação, aos religiosos, e assim por diante. Pois, a relação sexual faz parte de um sacramento em renovação da aliança feita entre homem, mulher e Deus, ou seja, o matrimônio.

Aos homossexuais, deve-se dar e garantir todos os direitos civis de união estável. Por motivos financeiros e de justiça, baseado na produção patrimonial dos indivíduos e no próprio livre-arbítrio. Porém, deve-se coerência às escolhas efetuadas. Qualquer criança compreende que as suas escolhas levam a certos resultados, qualquer equação demonstra que as variáveis determinam o produto. “Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas” (Antoine de Saint-Exupéry), portanto se escolhes uma relação homossexual, aceitas que não poderá fazer parte na cooperação da criação, ou seja, dessa relação jamais será possível dar origem a uma nova vida. É isso que a Igreja e os cristãos não podem, em hipótese alguma, aceitar ou aprovar, não se pode equiparar uma relação homossexual a uma relação familiar com os frutos de uma relação afetiva entre homem e mulher. É simples, é uma questão puramente de coerência na escolha. Tem-se o direito de escolher, mas também arcar com as consequências da escolha. Essa mesma consequência é aceita por aqueles que decidem, livremente, viver uma vida de Religiosos Consagrados (Monges, Freiras, Freis,...), Padres, Bispos, Papa.

Não vou me debruçar a respeito de certos aspectos da discussão como a imposição de não se poder usar o termo “homossexualismo”, em que se argumenta que tem conotação de classificar, pelo sufixo, como doença. No entanto encontram-se centenas de palavras com o mesmo sufixo e a maioria nada tem a ver com tipos de doença. Ou classificar a relação homossexual como homoafetiva, pois afeto por pessoas do mesmo sexo todos tem, ou os filhos do sexo masculino nutrirem afeto pelo pai, ou por um amigo, ou por um irmão é homossexualismo? O que diferencia um do outro são o desejo (tendência) e a prática (atividade) do ato sexual com pessoas do mesmo sexo.

Qualquer um pode discordar do que escrevi e isso é liberdade de expressão. O que não pode ser tolerado é eu não poder me expressar, isso seria censura e intolerância, aspectos claros de um estado não democrático, ou melhor: ditatorial.

R.B. Figueiredo

2 de fev. de 2013

Ano novo, vida velha

Passado um mês desde o ano novo, me pergunto se já  encontramos a chave para a vida nova. São tantos desejos, tantos projetos que passam pela nossa cabeça. Pedimos a Deus que mude nossa vida, porque o trabalho não está bom, a família incomoda, a saúde não vai bem, os sonhos não se realizam. Esperamos que milagres aconteçam na passagem de ano.

Ainda que não seja uma festa cristã o ano novo inspira a esperança, cabe a nós discernir em quem colocar a esperança. Se a colocamos em Deus, os pedidos nessa noite mudam. se a esperança brota do alto já não desejamos uma vida nova, já não desejamos fugir da nossa história. Essa é a chave do ano novo: esperar que Deus nos toque e para que ele nos encontre devemos estar na nossa realidade, na vida velha.

Desejar uma mudança geral em todos os âmbitos da nossa vida é brincar de esconde-esconde com Deus. Antes da mudança precisamos aceitar a vida velha, só assim Deus nos encontrará para fazê-la nova. Em meio a beleza da queima de fogos deveríamos abraçar a vida velha ao invés de rejeitá-la.

É uma alegria que Deus me tenha aberto os olhos a tempo. Ainda tenho onze meses desse ano novo para aceitar a vida velha. A esperança se renova por que Deus tem olhado por mim.

Vamos fazer uma festa? Cada um traz sua vida velha. Deus já confirmou presença!