29 de abr. de 2011

Ser luz


Duas palavras que têm me deixando bastante inquieto nos últimos dois meses são: “Vós sois a luz do mundo” (Mt 5, 14); e “Àquele a quem muito se deu, muito será pedido” (Lc 12, 48).

Quem me conhece sabe que sou um leigo católico, em missão pela Igreja. Todos nós, cristãos, somos chamados a ser luz para o mundo. A princípio eu escutava essa palavra, achava-a bonita, e mais nada. Depois de um tempo vi que para ser luz precisava dar sinais de vida eterna, fazer com que as pessoas enxergassem Cristo em mim. Só que eu pensava que ser luz fosse algo que partisse de mim mesmo, que dependesse do meu esforço. Hoje vejo as coisas de outra maneira. Deus me chama a ser luz, e a obra, é Ele quem faz, não eu.

Ser luz é ser um instrumento de Deus para a salvação daqueles que já não acreditam na vida eterna. “Brilhe do mesmo modo a vossa luz diante dos homens, para que, vendo as vossas boas obras, eles glorifiquem vosso Pai que está nos céus” (Mt 5, 16). E Deus não me escolhe porque sou bom. Pelo contrário, o Senhor escolhe o pior para que ali se manifeste a sua glória, assim como Jacó, que se reconhece fraco, mas se torna forte com Deus (Gn 32, 25-30).

Enfim, ser luz é prestar um serviço àqueles que se encontram nas trevas. E se Deus escolhe alguns para serem luz, ele também escolhe aqueles que serão iluminados. Ou seja, se tenho recebido uma palavra na Igreja, se o Senhor me ilumina os acontecimentos da minha vida, e eu deixo de ser luz, estou privando aquelas pessoas a quem Deus escolheu para serem iluminadas de receberem essa luz. E como posso deixar de ser luz, mesmo depois de tantas obras que o Senhor tem feito na minha vida? Primeiramente, estando no pecado. E dizendo não ao chamado que hoje Deus me faz: ser missionário.

Se antes eu pensava que eu só precisava cumprir os preceitos e procurar levar uma vida reta para chegar à vida eterna, hoje vejo que não é bem assim. Penso o seguinte: se Deus me chama a ser missionário, Ele confia a mim aquelas pessoas a quem levarei a sua palavra. E muitas vezes, pelas dificuldades e pelo meu comodismo, quero dizer não a esse chamado. Daí a minha inquietação com a palavra que diz “Àquele a quem muito se deu, muito será pedido” (Lc 12, 48).  Ou seja, se Deus me deu uma missão, responderei por aqueles que me foram confiados. E se rejeito este chamado, por mais que eu leve uma vida sem pecado, estarei fazendo a minha vontade, e não a vontade de Deus. “Nem todo aquele que me diz: ‘Senhor, Senhor’, entrará no Reino dos céus, mas sim aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus” (Mt 7, 21).

Certo momento pensei: mas, se rejeito esse chamado, Deus não permitiria que aqueles que me foram confiados fossem privados de escutar a Sua Palavra e enviaria outra pessoa para elas. Mas depois vi que, mesmo que viesse outro, e que fosse luz para aquelas pessoas, eu responderia pelo chamado que rejeitei.

Sei que o Senhor me dá liberdade para aceitar ou rejeitar esse chamado, mas, depois das palavras que tenho recebido e do que tenho vivido, minha conciência não me deixa livre. Isso tem me angustiado bastante porque no fundo quero fazer a minha vontade. Lembro-me agora de uma das leituras da vigília da Páscoa que diz “Com efeito, meus pensamentos não são vossos pensamentos, e vossos caminhos não são meus caminhos” (Is 55, 8).

Sei que, no fundo, Deus me dá essa missão não somente para a salvação daqueles que cruzarão o meu caminho, mas para a minha própria salvação. Pois ser missionário, para mim, é sair do meu comodismo, do meu egoísmo, da minha vontade, de mim mesmo. É deixar de viver para mim e começar a viver para os outros. É subir na cruz, entrar na morte. E para ressuscitar é preciso morrer.

Eu sempre dizia que coverter-se é dizer não à própria vontade e fazer a vontade de Deus. Uma vez um amigo me disse que a verdadeira conversão é quando a minha vontade está em conformidade com a vontade de Deus.

Por mais que tenha claro que hoje estar em missão é o melhor para mim, eu, na minha pouca fé, não aceito isso e quero fugir. Peço que rezem por mim e pela minha conversão.