30 de out. de 2014

Amar é uma escolha


Durante muito tempo carreguei comigo uma crise que não sabia como resolvê-la: eu queria amar a Deus, queria amar a Cristo, mas não conseguia. Por que não conseguia? Porque sempre achei que não escolhemos amar alguém, que amar é algo que nasce dentro da gente naturalmente. E eu não sentia isso nascer em mim com relação a Deus.

É verdade que em vários momentos da minha vida experimentei de forma concreta o amor de Deus por mim e, nesses momentos, sentia um amor por Ele muito grande, pelo fato de me sentir amado. Mas era um amor que durava enquanto eu me sentia consolado por Deus e que depois acabava. Voltava à minha rotina, deixava Deus em segundo plano, caía nos mesmos pecados, e acreditava que a as minhas quedas eram consequência de não amar a Deus. E eram, de fato, mas não como eu pensava (algo que vai ficar mais claro no fim do texto). Eu acreditava que só conseguiria perseverar na vida cristã se amasse a Deus.

Certo dia comentei com um amigo que eu queria amar a Cristo, queria sentir esse amor de dar a vida por Ele, e perguntei o que fazer. Meu amigo respondeu “Olha, só sei de uma coisa, não é possível amar a Cristo sem amar ao próximo”. Fiquei mudo e a ficha caiu: “amar ao próximo”, um ensinamento que sempre ouvi na Igreja, mas que pela primeira vez me tocou profundamente. Percebi que eu queria amar a Cristo, mas no meu dia a dia eu não amava as pessoas que estavam à minha volta.

Mas se eu não conseguia amar a Cristo, como iria conseguir amar aquelas pessoas com quem  tenho dificuldades de me relacionar e que não aceito? Bem, para ajudar a curar essa minha incapacidade de amar as pessoas, comecei a me esforçar mais em servi-las, ser solícito a elas, ter caridade, não agredi-las, e ser atencioso até mesmo em pequenos gestos como perguntar a alguém como está, como tem passado. E como isso tem me ajudado, principalmente com aquelas pessoas que eu não aceitava. Não acredito que agir dessa maneira com alguém que você não suporta seja falsidade, mas sim amor. Por amor a Deus e ao irmão passei a me esforçar em agir com caridade com as pessoas. E aqueles que eu julgava, que não aceitava, não suportava, Deus tem curado meu relacionamento com eles. E começou a despertar em mim um certo carinho por essas pessoas. Comecei a compreender que amar é algo diferente do que eu pensava.

Lendo um livro de Santa Teresa de Jesus, encontrei um trecho que acabou com essa minha crise:
“Talvez não saibamos o que é amar, e não me espantarei muito; porque não está no maior gosto, mas sim na maior determinação de desejar contentar a Deus em tudo e procurar, tanto quanto pudermos, não O ofender […]”.
Entendi então o que é amar. Sempre achei que minhas atitudes cristãs seriam consequência do amor enquanto sentimento, do gostar. Que eu só conseguiria perseverar na vida cristã se eu “gostasse” de Deus acima de todas as coisas. E o gostar é algo que não se escolhe, mas que se sente. Esse “amor” por Deus eu não tinha. Mas Santa Teresa vem me dizer que amar é uma determinação de desejar contentar a Deus. Ou seja, amar é uma escolha! Eu quero amar a Deus, e para amar a Deus muitas vezes tenho que fazer o que não gosto, mas que estou determinado a fazer, desejando contentá-Lo . Isso é escolha. Isso é o que eu estava fazendo com aquelas pessoas que eu tinha dificuldade de amar. Eu posso escolher amar a Deus!

Compreendi então que minhas atitudes cristãs são consequência do amor a Deus enquanto escolha, enquanto determinação, e não enquanto sentimento. E isso tem me ajudado a perseverar! Antes eu achava que só conseguiria ser um verdadeiro cristão quando nascesse um sentimento de amor (enquanto gosto) dentro de mim, que me levasse a agir em decorrência dele. Hoje sei que tenho que me esforçar para amar, tenho que me empenhar. Quando se tem essa consciência, não se espera o sentimento vir para agir, mas se age e o sentimento muitas vezes vem em decorrência da atitude. Porque agindo com amor se alcança a verdade. E quando descobrimos a verdade, nos apaixonamos por ela! Amar é uma escolha. E eu escolhi amar a Deus!

23 de abr. de 2014

UM ESPELHO CHAMADO JEJUM

Um espelho chamado jejum


Essa quaresma foi proveitosa e aprendi – de modo pessoal – um grande valor escondido na prática do jejum. Já me questionei inúmeras vezes o porquê de se jejuar, qual a lógica de “passar fome”, pois desta vez encontrei um grande espelho na prática do jejum.

Mas, como assim um espelho?

Vejamos a partir de uma famosa frase de C. S. Lewis (sim, o autor de Crônicas de Nárnia): “Se você está à procura de uma religião que o deixe confortável, definitivamente eu não lhe aconselharia o cristianismo”. Poderia encerrar a explicação por aqui, mas carece de mais. Alguém poderia perguntar: “por que o cristianismo é uma religião que não me deixará confortável? Que loucura! Eu sempre aprendi que o cristianismo é a religião que prega o amor, que Jesus era um homem tão carismático e grandioso!”. Sim, você está correto. Jesus realmente prega o amor. O problema é o que se compreende por amar. O amor que Jesus prega é o amor ágape e a atitude de se submeter à kénosis (esvaziamento de si mesmo).

Assim como os Filósofos Gregos e os Espiritualistas Egípcios, também os Padres da Igreja ensinavam que para conhecer a Deus é preciso conhecer a si mesmo e o instrumental para isso é a kénosis. Qual a melhor forma de conhecer a si mesmo? Seria olhar para si em um espelho que não reflita apenas superficialidades? Exatamente!

O relato do capítulo 4 de Mateus diz: “Jesus foi conduzido ao deserto pelo Espírito, para ser posto à prova pelo diabo. Ele jejuou durante quarenta dias e quarenta noites. Depois, teve fome. O tentador aproximou-se e disse-lhe: ‘Se és o Filho de Deus, manda que estas pedras se transformem em pães!’ Ele respondeu: ‘Está escrito: Não se vive somente de pão, mas de toda palavra que sai da boca de Deus’!”

A narrativa anterior é o batismo de Jesus por João Batista e logo em seguida dá-se início à sua vida pública e o anúncio do reino. Por que o Espírito é tão mal? Por que fez isso com Jesus? Ora, somente na precariedade é que o homem demonstra verdadeiramente quem é, qual a essência que domina seu coração, e, desnuda toda a imagem embaçada e torta, a qual engana os olhos humanos. E Jesus demonstrou que estava pronto; que a essência de seu coração era a palavra de Deus, a vontade do Pai. É muito fácil ser caridoso e bom quando se está na comodidade, no conforto, quando não há nada que te tire do sério: “Se amais somente aqueles que vos amam, que generosidade é essa? Até mesmo os pecadores amam aqueles que os amam” (Lc 6, 32).

O cristianismo quando levado a sério rompe com o véu que esconde o coração do homem e o introduz no templo, purificando-o de sua animalidade. Esse processo é dolorido e nada confortável, o que explica a frase de C. S. Lewis, mas além do sofrimento da Cruz está a ressurreição em Cristo, está a vida eterna.

Portanto, quão poderoso é o jejum que nos tira de nossa comodidade, nos arranca do conforto, do prazer de saborear uma deliciosa refeição, que nos tira do sério, revela quem realmente somos e qual a essência de nosso coração. Jejum, o poderoso espelho que reflete além das aparências externas.



R. B. Figueiredo

28 de jan. de 2014

O poder da oração de uma mãe

Santa Mônica e Santo Agostinho
Sempre ouvi que a oração de uma mãe pelo filho é forte. O maior exemplo disso é o de Santa Mônica, que rezou durante anos pela conversão de seu filho Agostinho, que depois veio a se tornar padre, bispo e santo.

Há um tempo atrás (quase um ano) eu me encontrava muito triste e angustiado devido ao peso dos meus pecados. Estava tão desanimado que nem conseguia pedir a ajuda de Deus para sair daquela situação. Mas certo dia fui a uma celebração na igreja e disposto a rogar a Deus que me desse ânimo novamente. Naquele dia as palavras me falaram muito forte sobre estar vigilante, abandonar as ações das trevas e viver uma vida santa. O padre ainda, em sua pregação, falou do dom de chorar os seus pecados, o que eu desejava profundamente, mas não conseguia. Entao naquela mesma noite sonhei com a voz do Papa João Paulo II me dizendo "Não tenha medo! Você não está sozinho!". Comecei a chorar no sonho e acordei aos prantos. Isso nunca tinha acontecido comigo. Levantei da cama, me prostei no chão e comecei a pedir perdão a Deus por tudo o que eu tinha feito. Nunca fui de ligar pra sonhos e nem de ver sinais neles, mas independente se aquilo era um sinal ou não, me ajudou bastante e sou grato por isso. No dia seguinte busquei um padre e fiz uma boa confissão.

Nos últimos dias tenho me encontrado novamente na tristeza, por conta de não estar em estado de graça por muito tempo. No último domingo a palavra me convidou seriamente a abandonar as trevas e buscar a luz, que é Jesus Cristo. Então ontem busquei a confissão e na noite passada sonhei novamente com o Papa João Paulo II, e estávamos rezando o Kyrie (Senhor, tende piedade de nós). Novamente acordei aos prantos, pedindo perdão a Deus.

Nesse segundo episódio comecei a pensar na minha mãe. Ela é muito devota ao beato João Paulo II (que em breve será canonizado!), e sempre ouvi ela dizendo "vou rezar pro beato", e também sempre a ouvi pedindo por mim e pela minha irmã em suas orações. Pode ser coincidência, mas eu acredito sim que isso tudo que relatei é fruto das orações que minha mãe tem feito ao João Paulo II.

E hoje sou muito grato à minha mãe por estar sempre orando por mim, ao beato João Paulo II, e a Deus por me tirar do pecado e me proporcionar esses momentos de consolação.